A História, o Momento Atual e o Futuro da Gestão de Projetos

4 de novembro de 2020

 

Para entendermos a história, o momento atual e o futuro da gestão de projetos, é importante fazermos uma análise em conjunto com o desenvolvimento da humanidade e as expectativas para o futuro.

A História da Gestão de Projetos

A gestão de projetos não foi criada no passado recente. Só para citar um exemplo, tivemos a construção de Pirâmides, há cerca de 5.000 anos atrás, que com certeza usou técnicas de gestão.

A necessidade de estudo e formatação da gestão de projetos tomou impulso na 2ª metade do século XIX, com as grandes obras que se seguiram à revolução industrial, em especial a construção das grandes ferrovias, e no século XX com as Grande Guerras Mundiais e a corrida armamentista decorrente da polarização política EUA x URSS.

Podemos ressaltar, desse período o diagrama de barras, divulgado por Gannt nos idos de 1900, e os métodos PERT (Program Evaluation and Review Technique) e CPM (Critical Path Method) desenvolvidos nos EUA para suporte ao Projeto Polar (submarino nuclear).

Fonte: https://medium.com/@dhtmlx/comparing-javascript-pert-chart-and-gantt-chart-eae2be7b924a

Em 1959, na Filadélfia - EUA, foi fundado o Project Management Institute (PMI) que passou a ser, a partir do final do século XX, uma das principais referências das práticas de gestão de projetos, programas e portfólio. A sua publicação mais famosa é o Guia PMBOK® (Project Management Body of Knowledge), cuja 1ª edição foi lançada em 1986, estando agora na 6ª edição.

Na década de 1980, o surgimento dos sistemas de informações e outras tecnologias baseadas em computador, impulsionou o desenvolvimento de software. E teve um salto ainda maior na década seguinte, onde observamos o crescimento das empresas dot-com que, infelizmente, culminou em uma bolha especulativa que estourou em 2000. Isto não impediu que o surgimento de novos negócios baseados em tecnologia continuasse a crescer exponencialmente.

Em 1993, Jeff Sutherland lança o Scrum, um framework de desenvolvimento de produtos, inicialmente voltado para o desenvolvimento de software, em analogia a um estudo conduzido em 1986 por Takeuchi e Nonaka, publicado na Harvard Business Review. O PMI chega oficialmente ao Brasil em 1998 com a inauguração do capítulo de SP e em 1999 com os do Rio e MG.

Na década de 2000 a tecnologia se consolida como impulsionador de novos negócios com a expansão de empresas como Google, Amazon, Apple, Microsoft, Airbnb, Uber, Facebook, Alibaba e Netflix. Surge então a necessidade de nova abordagem para a gestão, não somente para o desenvolvimento de software, mas também para projetos de novos negócios.

Em 2001, é lançado o “Manifesto Ágil”, uma declaração de doze princípios voltados para o desenvolvimento ágil de software. O Scrum tem grande influência no manifesto, pois Jeff Sutherland e Ken Schwaber, cofundadores do Scrum, eram dois dos dezessete membros.

Na década de 2010 é cunhado o termo “Transformação Digital”, com as organizações necessitando incorporar, como fator de sobrevivência, o uso da tecnologia digital às soluções de problemas tradicionais. Frameworks ágeis cada vez mais sendo utilizados: Scrum, SAFe, Disciplined Agile (DA), Kanban no desenvolvimento de produtos e serviços, tratados como projeto ou como processo.

O Momento Atual

No momento em que escrevo este artigo estamos em plena pandemia do coronavírus, quando as organizações perceberam que é uma questão de sobrevivência ter agilidade no mundo atual. As características fundamentais das organizações ágeis são:

  • Responder rapidamente às mudanças;
  • Entregar um fluxo contínuo de valor para o cliente e a Organização;
  • Utilizar ciclos curtos de entrega e aprendizado, com desenvolvimento adaptativo de produtos e serviços;
  • Utilizar processos enxutos com melhoria contínua (Lean).

Assim sendo, mais do que nunca, a utilização de frameworks ágeis como Scrum, Kanban, Spotify, Scrumban, SAFe, Disciplined Agile e outros passou a ser fator crítico de sucesso para as organizações, tanto em projetos como em suas rotinas de trabalho.

A busca pela agilidade criou uma polarização de ideias entre profissionais fãs das metodologias ágeis (adaptativas) e aqueles acostumados com metodologias preditivas (em cascata). Em Julho de 2020, doze profissionais lançaram o Manifesto híbrido, com doze princípios, por acreditarem que, em muitas situações, uma combinação das abordagens ágil e preditiva seja a escolha mais adequada para a gestão.

O Futuro

Podemos antever que a evolução tecnológica e as mudanças de cenários serão cada vez mais rápidas. Com isto, as organizações precisarão ter cada vez mais capacidade de se adaptar e mudar seu mindset para permitir o fluxo contínuo de entregas, agregando valor para o cliente e para a organização.

A incorporação de frameworks ágeis será fundamental, tanto para projetos como para processos. A utilização de métricas que permitam melhores estimativas de esforço e prazos quando da utilização de métodos ágeis permitirão uma melhor previsibilidade de projetos e processos.

Haverá uma necessidade maior da Gestão Integrada de Projetos, Processos, Programas e Portfólio, com o (Project Management Office) PMO evoluindo para um papel de Centro de Excelência nessa integração, servindo como facilitador e apoiando na seleção da melhor abordagem para cada iniciativa.

As equipes de projetos terão tipos cada vez mais variados de componentes (incluindo tempo integral, meio período, contratado / freelance, remoto etc.) potencialmente complicando as operações administrativas, comunicações diárias e dinâmicas de equipe.

Espera-se também, para dar um suporte mais rápido e efetivo no planejamento e nas tomadas de decisão em projetos, o investimento em novas tecnologia de colaboração e IA (Artificial and Data Intelligence Technology). Por exemplo, os cronogramas iniciais e registros de riscos serão criados pela IA usando dados históricos como base.

O Gerente do Projeto terá que ter um foco maior na geração de resultados para o negócio, entendendo a sua dinâmica com a gestão técnica do projeto e escolhendo o(s) framework(s) que irá utilizar em cada situação. adotando cada vez mais abordagens e metodologias personalizadas ou híbridas de gerenciamento de projetos. Ele deve ser um facilitador das mudanças organizacionais, atento ao retorno do investimento. Desta forma, precisará ter uma grande ênfase no alinhamento dos seus projetos com a estratégica, capacidade de gestão de mudanças e entrega de resultados / valor.

Como as soft skills se tornarão mais importantes para o sucesso do projeto, os gerentes terão que ser mestres em influência porque os projetos terão mais stakeholders envolvidos. Desta forma, o GP do futuro terá que ter uma combinação de habilidades técnicas e de gerenciamento de projetos, habilidades de liderança e habilidades estratégicas de gestão de negócios – juntamente com a capacidade de aprender e acompanhar a evolução tecnológica.

Tem um ditado ídiche que diz: “O homem planeja, Deus ri”. Em função das incertezas que impactarão o sucesso dos projetos, o gerenciamento profissional de riscos será fundamental para uma maior previsibilidade dos resultados dos projetos.

Sobre o autor:

Carlos Magno da Silva Xavier ( Doutor, PMP)

Carlos Magno Xavier

Diretor da Beware - magno@beware.com.br

Carlos Magno da Silva Xavier foi eleito, em 2010, uma das cinco personalidades brasileiras da década na área de gerenciamento de projetos. É Doutor pela Universidad Nacional de Rosário (Argentina) e Mestre pelo Instituto Militar de Engenharia (IME). Sócio-Diretor do Grupo Beware, sua experiência profissional, de mais de vinte e cinco anos, inclui a consultoria na sistematização do gerenciamento de processos, projetos, programas e portfólio em várias Organizações (TIM, Eletronuclear, BR Distribuidora, Eletropaulo, Marinha do Brasil, Iguatemi, Emgepron, SESC-Rio, Petrobras e outras).

Magno é também autor/coautor de dezoito (18) livros, dentre eles “Metodologia de Gerenciamento de Projetos – Methodware” – eleito em 2010 o melhor livro brasileiro da década na área de gerenciamento de projetos. É certificado “Project Management Professional” (PMP) pelo Project Management Institute (PMI) e professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas, Fundação Dom Cabral e UFRJ.

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